quinta-feira, novembro 23, 2006

Dedicatória

Adaptada de Abel Manta

Sophia, com todo o seu sentido de Justiça, dedicou este poema a Camões. Eu dedico-o a todos quantos insistem em lutar pela manutenção dos direitos adquiridos depois da Revolução de 25 de Abril de 1974. Dedico-o aos trabalhadores, aos desempregados que querem trabalhar, aos reformados traídos, aos militares que hoje irão ao Paço se os deixarem lá ir. Dedico este poema à Cultura que se quer como Cultura para todos e não como mero empreendimento lucrativo para alguns. E finalmente dedico-o, como Sophia, a Camões e a todos quantos este país vai matando lentamente...


Camões e a Tença

[Sophia de Mello Breyner]

Irás ao Paço, irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce

Em tua perdição se conjuraram
Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou mais ser que a outra gente

E aqueles que invocaste não te viram
Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos no teu rosto

Irás ao Paço, irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência
Este país que te mata lentamente

6 comentários:

Rui Martins disse...

nunca como hoje, nos últimos vinte anos, esteve mais a Democracia em risco... As pressões neoliberais e neoconservadoras (tantos "neo"...) pressionam por todo o lado, e o pior, é que cada vez mais a nossa opinião e as formas de a explicitar via Media, estão mais limitadas... Dado que o Poder económico controla hoje Todos os Media...

Por isso a blogoesfera é tão importante: como o último reduto da Opinião: Livre e Pensadora como deve ser.

Outsider disse...

Este país está de facto a matar-nos lentamente... Se não tivermos cuidado quando dermos conta, já não temos hipoteses de sobreviver. Ainda bem que temos os nossos blogs, esses cantinhos que nos servem de aviso e servem também para nos encher a alma.
Que belo poema de uma autora da minha terra.
Beijos.

tb disse...

E tão actual que se mantém, não é? Cada vez mais!
jokas

Kaotica disse...

Rui Martins

Pois é precisamente isso que eu gosto nela: ser um meio de veicular todo o tipo de opiniões. Só que isso acarreta alguns problemas que por vezes me desanimam: a blogosfera tende a gerar grupos e só muito dificilmente chega a outras pessoas. Por um lado é reconfortante ter sempre um grupo certo de pessoas que visitam o nosso blog. Mas esse grupo tende a concordar com as opiniões desse blog, o que significa que a opinião não se está a expandir e a cumprir a sua função que é atingir cada vez mais pessoas e fazê-las ganhar consciência (talvez isto não aconteça com outros blogs melhores que o meu; talvez o meu seja um blog falhado! Talvez eu não me empenhe o suficiente); outro problema é que se o blog tem preocupações sociais, se procura alertar para as más políticas praticadas, seria bom que chegasse a pessoas que precisam ser alertadas, mas essas pessoas nem lêem os jornais, quanto mais terem acesso aos blogs. Esses são os excluídos, a quem a net, e as tecnologias em geral, acaba por excluir ainda mais; finalmente, o tempo que se passa atrás de um computador é tempo que se perde para que se efective o contacto corpo a corpo com as pessoas, contacto verbal, de olhos nos olhos, única forma de chegar a algumas pessoas, como no café, ou nos estabelecimentos públicos, quando algo injusto acontece e se manda uma boca certeira para o ar e se deixa toda a gente a discutir o assunto. Já me alonguei, como sempre. Abraço!

Kaotica disse...

Outsider

Belo poema. O pior é que o conteúdo continua actual. Sobre os nossos blogs fica o que eu disse ao Rui, com uma certa amargura. Há dias assim. Amanhã posso estar mais optimista mas hoje tive um dia difícil. Abraços!

Kaotica disse...

TB

Olá amiga. Que sejas muito bem vinda aqui a este cantinho que de Pafuncio só tem o nome. Pafuncios é aliás o que mais anda por aí a achar que tudo o que não apresenta um lucro imediato é para banir.
Tão actual este poema que até doi. Hoje o meu optimismo está na mó de baixo. Mas a tua visita trouxe uma energia que me animou um pouco, por isso te agradeço. Bjikos!

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