domingo, fevereiro 25, 2007

The happy few social status - Clara Ferreira Alves no seu melhor!

Ignore-se o povo porque nós vivemos muito acima dele. Nós somos seres iluminados e clarividentes. As nossas preocupações são muito mais grandiosas e realistas, regem-se e orientam-se por um Deus Milhão, todo poderoso. Sou uma rapariga material que vive num mundo material. Para que quero eu saber do povo paupérrimo, essa classe tão manifestamente insignificante, se o dinheiro é tudo o que importa?

Li este fim de semana, numa daquelas cartas de leitores do Expresso, um elogio rasgadíssimo à inteligência de Clara Ferreira Alves. Acabei agora de assistir ao Eixo do Mal e lá estava ela a defender acerrimamente que a OPA da Sonae, onde está o dinheirinho, como ela disse, é muito mais importante do que o encerramento das urgências médicas pelo país fora. Referiu que manifestações de trinta e tal pessoas não eram nada, que não era ali que se resolviam os problemas do país mas sim nos centros de decisão da União Europeia. Esta grande conclusão não deixa de ser verdadeira, do ponto de vista de uma dama burguesa, uma bisca, neste caso, que nunca deve ter precisado de pôr os pés numa urgência estatal. Das tais que noutros tempos, se quisesse fazer um aborto, iria não a Badajoz, porque mesmo aí era demasiado rasca para ela, mas para Londres ou para uma dessas capitais europeias onde ela se não está, já esteve. Esta senhora, não concebe a importância que estas pequenas coisas têm para as populações, para a populaça, até lhe ficaria mal discutir isso. Para ela são tudo coisas muito comezinhas, não é a resistência do povo que lhe interessa, não é a sua revolta por perder as poucas conquistas que ainda mantinha, o direito à saúde pública, o direito à educação... Para ela nada disto é importante, o que decide os destinos do país é onde está o pilim que nos irá sustentar mais tarde a segurança social, a saúde, a educação. O nosso ganha-pão futuro está pois em lhes prestar vassalagem, em lhes conceder toda a importância e em desprezar totalmente a vontade popular. Altos voos, portanto o desta grandessíssima burguesa, para quem a Nação deixou de ser importante, que se verga assim às forças do poder do pilim. Para gente desta o país já morreu, o povo cheira mal e, de resto, tudo se centra na sua brilhante pessoa, de horizontes mais largos, tudo se considera a partir do seu umbigo, o que acha realmente importante e o que não é digno de importância . A sua visão dos problemas produz-se através de umas palas tão abertas para os lados, que a jumenta se obstina em não considerar os problemas dos que estão ali a protestar no seu país, debaixo dos seus olhos. Esses são apenas o povo a quem ela não reconhece qualquer protagonismo significativo. Esta pedaça de asna, como outros hoje em dia, entrou em velocidade de cruzeiro, está muito além destes pequenos contratempos aqui no burgo onde nos vão acabando como direito à saúde pública, com a educação, com todas as conquistas com que nos íamos ainda afirmando como nação que tinha já alcançado um certo desenvolvimento de protecção social. Ela não pode enxergar que cada vez que essas comunidades perdem alguma dessas conquistas, sentem-se naturalmente lesadas, expropriadas. Ela não pode ter esse espírito de comunidade porque ela é um ser superior a tudo isso. Ela, a sua opinião, é a bandeira do individualismo bem sucedido e bem nutrido que não se pode jamais colocar na pele de um povo a perder todos os dias os seus direitos, nem pode levar a sério a sua luta e a sua revolta. Para ela o povo é uma ficção enquanto o pilim é uma realidade. Esta casta de intelectualóides ajudam a suster a destruição das nações que os imperialismos, pela via da globalização, estão a operar. Enquanto alardoarem que os nossos problemas se resolvem é nos píncaros da UE e não na rua com os cidadãos, estão a conformar-se e a confortar-se com essa realidade, enquanto menosprezam e desconsideram o poder popular. Que democracia defende esta gente? Uma pilimcracia? Que ideia têm da nação? A que povo pertencem?

A nação já não serve para servir a comunidade. O Estado prepara-se sim para sacar a propriedade que era de todos, passando esta a ser propriedade privada de uma empresa que, mesmo estatal, não deixa de ter a sua filosofia empresarial detentora dos bens que eram da comunidade. O encerramento de urgências e escolas é uma expropriação dissimulada da propriedade colectiva, que servia a todos e que o Estado vai convertendo em propriedade de empresas. É do conhecimento geral que uma empresa tem a função última de produzir lucro. A sua finalidade não será mais servir a comunidade, mas sim produzir lucro e, se um dia essas empresas estatais não cumprirem o objectivo do lucro, quem impedirá o governo de as vender a privados? Quando isso acontecer – e os acontecimentos agora sucedem-se muito rapidamente como nas novelas – , as pessoas do estatuto sócio-económico desta comentadora de serviço, continuarão a pagar do seu bolso os seus bons médicos e as suas boas escolas. E nem sequer darão grande importância a serem um cada vez menor número de happy few no meio de tanto povo descontente. Para elas esse status é um dado adquirido, uma questão de classe. Eles são especiais, têm um olho para constatar que o poder decisivo está nos detentores do pilim e a cegueira dessa maioria, de que não fazem parte, não os afecta nem um pouco porque eles são os iluminados e não se confundem com a ralé. É desta matéria que se constrói o que alguns consideram a grande inteligência das suas opiniões. E digam lá se isto não é cada vez mais uma luta de classes?


2 comentários:

Outsider disse...

Excelente texto minha amiga. A verborreira insultuosa que sai da boca desta gente enoja-me. Esta gente que tem tempo de antena na televisão devia ter mais cuidado com o que diz, pois as suas opiniões são as de quem nasceu num berço de ouro etem uns tachos magníficos e nunca sentiram a necessidade na pele. Por isso se acham tão superiores...
Ainda hoje li no blog do Rui Martins as afirmações de uma besta que se chama Luis Pedro Nunes neste mesmo merdoso programa que é o "Eixo do mal". A iluminda alimária acha que os Portugueses são pouco ambiciosos, pois ficariam satisfeitos se ganhassem 160 contos por mês. Isto é uma enormidade onde se nota perfeitamente que estes senhores dos tachos não sabem o que é ter de trabalhar a sério para ganhar o ordenado mínimo e viver com o medo de ser despedido.
Por tudo isto eu digo a estes iluminados comentadores par irem para a puta que os pariu!
Beijos.

Kaotica disse...

Outsider

Tenho muita pena de não saber escrever melhor para os mandar ainda mais perentoriamente para a puta que os pariu, se bem que eu acho que têm muito mais culpa do que as mães. E também me parece que são mais que às mães!
Abraços

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