Como sei que vocês não vão ler por ser muito extenso, aqui vai uma notícia comentada por um professor do ensino secundário que tenho o prazer de conhecer pessoalmente e a quem pedi para colocar aqui n' O Pafúncio.
Dos noticiários:
[Vital Moreira, conhecido professor univeristário, constitucionalista, ex-membro e deputado do PCP, actualmente um destacado apoiante do governo do PS]
"A esquerda da esquerda, a esquerda 'de protesto' segue uma bizarra narrativa, em que ela própria não acredita, dizendo que se assiste à destruição do Estado social. Este Governo pede meças em defesa da escola pública", declarou o docente universitário.
Antes de lamentar que a oposição de esquerda confunda a defesa da escola pública com a recusa de mudanças, Vital Moreira sublinhou a importância da avaliação para que a escola pública não abandone para os privados "a dimensão da excelência".
"Não se trata apenas de tirar boas notas. A escola pública em relação aos privados tem a vocação da universalidade", frisou.
Vital Moreira sustentou também que as diferenças políticas entre a esquerda e a direita são "incontornáveis" ao nível da educação.
Depois de caracterizar a direita como portadora de valores como a responsabilidade individual e a favor da redução do Estado social, o constitucionalista frisou que a esquerda para ser fiel aos seus valores "tem de dar primazia à educação.
"O direito universal ao ensino continua a ser uma luta inacabada para combater a exclusão", considerou
Comentário: A defesa da escola pública era durante o século passado uma bandeira dos socialistas reformistas, quer estivessem no PS, quer noutras forças, que se designam como mais «radicais» mas sem o serem, além do discurso. O século XXI assistiu ao desmantelar da escola pública, tal como outras componentes do chamado «estado social», por aqueles mesmos que se proclamavam os seus lídimos defensores. O facto é por demais conhecido, não restando no «povo de esquerda» uma capacidade de resposta à altura do desafio, por causa da traição das elites (mais uma vez) às causas populares).
O facto da escola pública ser destruída tem a ver com a necessidade de criar mercado para o ensino privado. A escola pública passa a ser impedida de concorrenciar os privados. Tem apenas um papel supletivo, conforme está consignado nos acordos ao nível dos serviços (GATS) assinados em 99 pelos governos de todos os países da OMC (portanto todos os da UE de então). Nestes, incluía-se uma série de governos com «socialistas» e mesmo com «comunistas» (governo Jospin, em França).
Tudo que que Vital Moreira pode afirmar que a direita não esconde sob roupagens demagógicas a sua ansiedade em oferecer à gula dos privados os sectores rentáveis da escola pública; enquanto a esquerda à ele qual pertence actualmente tem «pudor» de o proclamar embora seu currículo no desmantelamento desta escola pública seja impressionante (vide os mais de mil e quinhentos estabelecimentos do ensino básico já extintos em dois anos, com enorme percentagem do interior norte) . Certamente, ela dispõe de arautos «muito encartados» para afirmar em juras solenes exactamente o contrário dos próprios factos!
Quanto ao PCP e BE, nem um nem outro são excessivamente alarmistas, mas o contrário; têm-se pautado por uma política tão moderada (nos actos, não verbalmente) que mais pareece conivência objectiva. Evidências? Os sindicatos da FENPROF do continente são dominados por estas duas correntes. Os sindicatos não fizeram mais do que desbaratar o potencial de luta, traindo a própria greve geral em 2005. Não fizeram nem fazem a união com as forças dos outros sindicatos de professores ou da função pública, para pressionar o governo, mas para apresentar um «ramalhete» de dirigentes a negociações, onde nada de importante o governo aceita negociar, mas os sindicatos continuam a fazer o frete. São simulacros de «negociação». O teatro assumiu foros de escândalo com a reviravolta pós- manifestação histórica de 8 de Março de 2008, em que os mesmos que a organizaram e foram porta-vozes da posição dos manifestantes na tribuna do Terreiro do Paço, vieram desdizer o compromisso solene aí assumido por eles perante o país e não apenas os 135 mil manifestantes. Estes senhores serviram o governo PS, no intuito de destruir a carreira docente, com tanto ou mais eficácia quanto a própria ministra!!
Agora continua a ficção de cenários de «luta» (infelizmente, entre aspas!) porque estão com olho nas eleições e sabem que não podem assustar o centrão, o eleitor PS que está descontente com o governo e está tentado a votar mais à esquerda.
É assim que esses senhores, da escola ideológica de Vital Moreira, quase todos, estão a oferecer a escola pública, para transformação numa negociata entre autarquias e privados, para poderem depois vir chorar lágrimas de crocodilo (autêntico!) enquanto abocanham nos seus respectivos «baluartes» municipais com os despojos do que já foi um sistema nacional e unificado de saberes, práticas, currícula, dispositivos institucionais.
TRISTISSIMO VERIFICAR AS PALHAÇADAS E CAMBALHOTAS DE UNS DE OUTROS E A AUSÊNCIA DE ESPÍRITO CRÍTICO DE MUITAS BOA GENTE, QUE AINDA SE DEIXA REALMENTE ENGANAR COM OS CANTOS DE SEREIA DAS «ESQUERDAS»... AFINAL O QUE FALTA É DAR-SE ATENÇÃO ÀS PROPOSTAS DE ALTERNATIVAS E DE LUTA CONCRETA.
CREIO QUE SOMENTE UMA ESQUERDA ANTI-CAPITALISTA E ANTI-AUTORITÁRIA, NESTE PAÍS, TEM CONDIÇÕES PARA O FAZER.
Manuel Baptista
3 comentários:
Oi Amiga
Em primeiro lugar dizer já que este assunto mexe muito comigo.
De facto a destruição do ensino e da escola pública só é comparavél aos ataques ao serviço nacional de saúde.
Em segundo lugar dizer que cromos que andam a saltitar de Latos para Pilatos como Vital Moreira, são pessoas que não me merecem rigorosamente crédito nenhum.
Faz-me lembrar aquele azougado militante do MRPP que parece que participou na retirada de mobiliário da Retoria da Universidade de Lisboa, em nome da Revolução.
Hoje é peixe graúdo, parece que cherne, a servir de fantoche de quem pagar mais, á frente dos designios da União....
beijos
são os piores os que se movem por interesses imediatos e pessoais. o seu maior pavor é perderem os tachos que acumularam. É legítimo pôr um partido em causa quando ele nos decepciona pelas suas acções e admito que se possa procurar outros caminhos mais assertivos mas isso não tem nada a ver com a postura oportunista de gente dessa laia. são capazes de dar o cu e a pátria por oito cêntimos
Olá amiga
Não estou muito por dentro da situação, mas sempre vou dizendo que aprendi na escola pública, os meus filhos aprenderam na escola pública (tenho a mais novo no último ano de economia numa Universidade pública), as minhas netas lá longe na estranja também andam no ensino público. E digo mais, com muito orgulho.
Foi perguntado ao 1º ministro se é tão defensor do ensino público, se apregoa aos quatro ventos que o mesmo é o futuro e é o melhor, porque tem os filhos no privado?
Resposta do alarve:
Faz parte da esfera privada de cada um(sic)
Para ser honesto (o que não é o caso) o salafrário dizia:
"já viu os herdeiros do 1º ministro juntarem-se à ralé?"
BJS
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