Perfil: professor de Inglês, com perfil para leccionar a disciplina a crianças do 1º Ciclo do Ensino Básico ( 1º, 2º, 3º e 4º anos)
Condições: 6h semanais / de 1 de Outubro de 2007 a 15 de Junho de 2008 / 15 eur à hora / recibo verde*
* O recibo verde poderá ser passado mensalmente ou apenas no final de cada ano civil, ou seja, em Dezembro de 2007 e depois em Junho de 2008, quando terminam as actividades.
Entidade: Jardim INfantil "O Finório, Lda."
R. Eng.º Lúcio Azevedo, 25 S. Brás Amadora
(Recebido por E-mail: Serviço de Orientação e Integração Profissional )
Sou licenciada em LLM, Estudos Portugueses, logo não estaria vocacionada para responder a esta oferta de trabalho. Mas não posso deixar de comentar que acho admirável que um colega que se formou até ao fim dos estudos para dar aulas de Inglês, na intenção de seguir uma carreira docente, possa pegar de bom grado num anúncio assim. E no entanto quanto desespero, quanta gente anda por aí respondendo sem futuro a estas ofertas de inegável trabalho precário…. Sem direitos nem subsídios de férias ou de desemprego, que segurança? Repare-se nas condições oferecidas: um contrato temporário firmado em recibos verdes, muito mal pago, um autêntico biscate pedagógico, sem possibilidades daquele professor poder vir a ser um individuo auto-suficiente.
Mas não é o nosso governo que diz como todos os outros estar a esforça-se por combater os recibos verdes e o trabalho precário?
Mas são os professores uns biscateiros?
Quantos, por não terem outra saída profissional, estão dispostos a enfrentar a aventura de leccionar num jardim de infância auto-denominado “O Finório”? O que esperar de uma entidade empregadora com um nome destes, que depois aluga os contratados mal-pagos professores, subalugando-os e obtendo assim, com a sua força de trabalho, algum lucro junto das entidades camarárias. De ora avante será normal que as Actividades de Enriquecimento Cultural que o seu filho frequenta na escola pública onde anda sejam ministradas pel’ “O Finório, Lda.”. E não se admire se em vez de ele voltar para casa descontraído e exausto de tanta brincadeira, ele chegar um autêntico… finório.
Que futuro para as nossas crianças? Você é que é o encarregado de educação. Você é que tem a responsabilidade de os educar (os que educam); os professores ajudam a crescer (os que ajudam); e mostram caminhos, quantos mais melhor. Talvez isso fosse quando eu estudei: agora nem por isso, enfiados em espartilhos burocráticos, desconfiados das intenções dos colegas que os vão avaliar, eles são cumpridores à risca do programa do livro de leitura, ensinando-lhes as metáforas da receita de papel reciclado em detrimento de um Aquilino, obrigados a baixar os níveis de exigência para mostrar resultados. Cara a cara com os alunos, como não continuar a fazer o melhor trabalho e a levar para a frente cada caso, na aula e na burocracia? Dentro da sala ainda não há cameras de vigilância. Na sala dos professores pouco se partilham experiências educativas ou se fala dos falhanços das políticas de ensino. Para trabalho já basta! Fora da escola não se fala de escola!Os professores fingem para si próprios que nada disto está a acontecer (os que fingem!). Estão finalmente partidos como classe: dividem-se em classes dentro da própria classe. Todos entraram no ensino habilitados a leccionar, mas eis que novos factores são ponderados para ditar a sua estagnação ou ascensão na carreira docente: Que levante o dedo quem exerceu mais funções executivas nestes últimos anos do que deu aulas? Esses podem passar na frente dos outros que já lá andavam há anos com os alunos dentro das salas de aula, a serem professores, alguns destes com maior curriculum do que outros que vêem agora passar à frente na carreira. Estes ganham um título, passam a ser “titulares”, e recebem mais, têm a vida mais facilitada. Estão finalmente e definitivamente uns degraus acima de outros. Alguns envaidecem-se desta promoção; outros nem por isso; há quem se sinta mesmo envergonhado. Como escolher entre toda a equipa quem vai avaliar quem?
Não, os professores também não estão bem, estão fartos. Essa é a palavra: estão fartos! Será por isso que os nossos filhos vêm da escola fartos, sem vontade de estudar mais? Fartos de tanto horário lectivo, fartos de tanta regra e de não terem na escola um único espaço de liberdade onde a sua criatividade jovem possa também crescer. Quanto a mim sou encarregada de educação mas também sou mãe e preocupo-me com o futuro dos meus filhos e vejo longe em que futuro precário estas políticas praticadas hoje o vão lançar. Espero o dia em que as pessoas estejam realmente fartas de estar fartas de ver as coisas não a transformarem-se, a mudar para melhor, mas subitamente a desaparecerem. O fim dos direitos do trabalho… o fim da justiça… os encerramentos dos serviços médicos, o fim anunciado da escola pública… as entidades semi-privadas a aparecer de todos os lados e a minar tudo o que era de todos, a nossa propriedade pública...
Como serão as aulas dadas pelos professores d’ “O Finório, Lda”?
Não acho que a escola pública possa deixar de existir. Os governos das nações têm que investir no Ensino dos cidadãos, não podem entregar e relegar essa tarefa nas mãos dos privados que têm como finalidade última tornar a escola lucrativa. A escola não é para ser lucrativa, nem os serviços sociais. Por esse caminho em breve voltaríamos ao tempo em que só os filhos das pessoas com dinheiro poderiam estudar. Queremos reviver esse passado tão recente? O Estado, a nação precisa de formar os seus cidadãos para se manter. Imagine-se que os nossos governantes já não quererem governar a nação como nação: como eles traçam já como meta alcançar um lugar nas altas esferas de decisão da União Europeia, uma missão algures, uma presidência acolá na Comissão europeia, ou quem sabe até uma quota de participação num clube de influência um pouco mais acima no topo da hierarquia global. Qual deles não gostaria de fazer parte do clube dos “senhores do mundo”? Mesmo se esses amos os mandassem destruir a nação.
Quem deseja ser governado por tais "finórios"?
A escola pública não pode deixar de existir: uma nação sem serviços médicos, sem urgências, sem escolas, sem empregos, sem estruturas reais não pode existir. A questão agora é de agarrar o que a nossa acção conjunta possa ainda salvar, e não parar antes de recuperarmos o que alcançámos e nos foi tirado. É preciso dizer “Não!”. A evolução da nossa sociedade não pode ser perder, perder, perder… tem que ser alcançar em conjunto melhores resultados. As pessoas não estão contentes. Também estão fartas. Como se pode governar pessoas descontentes? Como poderá o vosso mandato, o mandato que uma maioria vos deu em eleições democráticas, moralizar as pessoas que vos elegeram? É preciso romper com esses mandatários da União Europeia que fingem nos governar e se vão governando. Dizer que sim a tudo o que vem de cima não é digno de um governante, de um representante da nação, de alguém que foi eleito para a defender livre e cooperante entre as outras nações.
Nunca se vê os nossos governantes baterem o pé a alguma directiva tornada absolutamente absurda pela realidade periférica do nosso país, um país que ainda há poucos anos bateu o pé à exploração do homem pelo homem. A propriedade pública é hoje desbaratada, entregue nas mãos de entidades privadas e multinacionais cujo único interesse é aumentar os lucros, quer se trate de saúde ou educação, porque essa é a sua filosofia.
Os serviços públicos e sociais, o pouco do que é nosso, da vinha e do vinho destrói-se e descaracteriza-se. Tudo o que produz e funciona segue o curso do desmantelamento e da destruição em favor do capital financeiro, fictício e sem valor real. Uns poucos por todo o mundo se contentam e se alimentam deste estado de coisas. Mas a maior parte das pessoas sente que está a perder poder de compra, que o seu esforço de trabalho é desvalorizado todos os dias enquanto cresce o poder do capital e se experimenta a mais atroz insegurança. Onde estão os pesos da balança? Onde a justiça deste sistema que aglutina as nações e as dilui? Que justiça esta que solta os criminosos e deixa os corruptos livres; que prende as famílias a empregos sem horários e encerra as crianças em salas de aula bafientas.
E as pessoas? Onde estão as pessoas para se unirem contra isto tudo em que são arrastadas? Onde estão as pessoas para dizer que não era isto que esperavam da democracia alcançada em Abril? Onde estão as pessoas para reclamar junto das entidades responsáveis que quando deram o seu voto não era para lhes destruirem o que tinham durante anos alcançado.
Quando sentirem os danos dessa destruição a minar as suas próprias vidas e não aguentarem mais, elas surgirão da noite para o dia, como já aconteceu noutros momentos.